Biografia de GEORGE VALE OWEN ?-1931
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Celebre médium inglês desencarnado a 9 de março de 1931.
Um periodista inglês que, na década de 1920, se atrevesse a tratar temas espíritas devia possuir muita perspicácia e muita coragem, sustentados por uma autoridade indiscutível.
Esse periodista foi Lord Northcliffe, que o fez publicando nada menos que os escritos recebidos mediunicamente pelo famoso médium britânico Rev. George Vale Owen. As publicações do “Correio Semanal”, contendo tais escritos despertaram inusitado interesse, tanto na Inglaterra como em outros países, o que aliás redundou num ataque sistemático por parte das Igrejas, que movimentaram todos os seus recursos materiais com o objetivo de minorar os “catastróficos efeitos” que estavam produzindo em todas as camadas da sociedade os escritos de Vale Owen.
Quem era George Vale Owen, que deste modo alterava a calma natural de todos e produzia semelhante impacto nas arraigadas convicções religiosas do conservador povo britânico?
Vale Owen era um sacerdote, membro de poderosa ramificação religiosa que havia monopolizado o sentimento de religiosidade dos povos da Inglaterra e de outras nações. Nessa altura dos acontecimentos ele já estava trabalhando nas lides espíritas e havia- se integrado entre os homens de renome que deram grandes passos no sentido de implantar as idéias espíritas naquele país.
Os problemas relacionados com o Espírito, despertaram em Owen a intenção de fazer com que um novo conceito de Deus se tornasse acessível às criaturas humanas, conceito esse despojado de dogmas, de ritos, de fanatismo e de obscurantismo. Animado desse propósito foi buscar na carreira eclesiástica um meio mais rápido e eficiente de colocarse em contacto com as almas daqueles que desejavam encaminhar-se para uma vida melhor e mais segura, no alémtúmulo.
Aconteceu a Vale Owen o que sucede geralmente com muitas pessoas dotadas de poderosa vocação: distanciou- se do roteiro palmilhado por sacerdotes sectaristas. O seu objetivo foi então o de procurar desesperadamente a verdade, o único caminho que conduz a Deus.
Owen conseguiu chegar ao sacerdócio solidamente alicerçado nos princípios filosóficos e científicos, os quais lhe propiciaram profunda perspicácia no sentido de adentrar o âmago de todas as questões que reclamam a atenção da mente humana.
Realizou seus primeiros estudos no famoso “Colégio da Rainha”, passando em seguida ao Instituto Midland, onde atingiram os mais elevados graus os seus conhecimentos científicos e religiosos.
Ordenou- se sacerdote em Liverpool, quando tinha apenas 24 anos de idade, tendo sido designado para desempenhar o seu ministério no humilde curato de Seaford. Ele era um homem humilde, embora atrás dessa humildade cristã ocultasse uma fortaleza de ânimo e um Espírito sempre predisposto para a luta. Devido a essa humildade e apesar de sua sólida formação espiritual, jamais logrou alcançar um lugar proeminente no seio do clero ou qualquer projeção
dentro de sua Igreja.
Os desígnios de Deus, no entanto, eram outros, e nos humildes curatos de Seaford, de Pairfields e de S. Mateus, bem como nos subúrbios de Liverpool e mais tarde nas cercanias de Oxford, dedicou- se com verdadeiro devotamento ao seu ministério, e quanto mais se sentia perto de Deus, mais ficava abalado em sua situação de sacerdote.
No propósito de buscar um contacto mais íntimo com o mundo espiritual lembrou-se do “Batei e abrir-se-vos-á” dos ensinamentos evangélicos e, com isso viu desabrochar a sua mediunidade, graças à interferência de sua mãe, desencarnada em 1909, e que começou a dar suas primeiras manifestações em 1913.
A princípio ele relutou em aceitar a realidade dos fatos, dado o seu excessivo apego à verdade. Não tardou muito em ter as provas mais convincentes, o que fez com que se convertesse inteiramente ao Espiritismo.
As mensagens recebidas foram condensadas em quatro livros. Nessa época começou a receber mensagens de um Espírito que se intitulava “Astriel” mensagens essas eivadas da mais profunda filosofia. Sua primeira obra, “Os baixos Campos do Céu” e, logo a seguir, “Os Altos Campos do Céu”, tiveram notável repercussão. A fase seguinte foi a publicação do livro “Os Mistérios do Céu”, inspirada por um Espírito que se subscrevia “Leader”. Espírito esse que assumiu um controle único sobre todas as comunicações dadas posteriormente e cujo nome ele próprio mudou para “Ariel”, formando o quarto e último livro “Os Batalhões do Céu”.
Os prólogos das obras de Vale Owen foram elaborados por “Sir” Arthur Conan Doyle, o genial criador de Sherlock Holmes, o que demonstra o elevado sentido das comunicações recebidas do plano espiritual. Num desses prólogos dizia o famoso escritor inglês: “Com que segurança se afirma que Deus fechou as fontes da inspiração há 2000 anos.
Não é infinitamente mais razoável dizer-se que um Deus vivente continua demonstrando sua força vivente e que novas ajudas e novos conhecimentos continuam a ser por ele derramados para impulsionar a evolução dos homens?”
Lord Northcliffe tinha sérias e profundas inquietudes espiritualistas que em nenhum momento foram sufocadas por sua imensa fortuna material. Ele descobriu Vale Owen e por isso pôs sua fortuna e influência no afã de divulgar as obras do famoso médium, não receando jamais colocar em jogo o seu prestígio e a sua fortuna, na realização de uma obra que ele considerava extraordinária e mesmo absurda e atrevida para a época. Ele era um periodista de nervos fortes, de coração e de vocação, que jamais titubeou em publicar o que era atualidade e realidade, mesmo que isso viesse a redundar num abalo do seu prestígio de diretor de uma cadeia enorme de jornais diários.
Lord Northcliffe afirmou ainda, referindo- se a Owen: “Encontrei-me frente a um homem dotado de grande sinceridade e de uma convicção inabalável; era possuidor de grandes dotes espirituais e quando lhe ofereci grossa quantia em dinheiro para a publicação de suas obras, ele a recusou, solicitando apenas o suficiente para uma modesta publicação de seus livros.
Essas obras poderiam dar a Vale Owen imensa fortuna, dado o interesse que elas despertaram; poderiam ter dado ao médium facilidades para deixar o pobre quarto onde habitava em Oxford, podendo ainda, com esse dinheiro, aspirar a uma paróquia mais respeitável, entretanto, tudo foi recusado por ele e esse dinheiro foi investido por Lord Northcliffe em obras filantrópicas.
Os trabalhos do médium, publicados no “Correio Semanal”, fizeram com que esse periódico atingisse tiragens surpreendentes. Suas obras são conhecidas na Inglaterra por “Escrituras de Owen”. Sabe- se que a versão de seus livros para o vernáculo seria sob o título “A Vida Além do Véu”.
O êxito colimado por ele no campo espírita acarretou- lhe a perda da sua paróquia, pois a ela teve que renunciar, perdendo a fonte de onde tirava o necessário para o seu sustento. Nesse evento ele proclamou: “Muitos são os que podem ser vigários de Oxford, porém não são muitos os que podem fazer o meu trabalho de propaganda”.
Aos 53 anos de idade George Vale Owen iniciou sua tarefa de divulgação do Espiritismo. Dirigiu- se aos Estados Unidos da América onde ele já estava bem difundido, fazendo ali muitas prédicas, grangeando grande número de amigos e discípulos, tendo posteriormente regressado à Inglaterra, onde proferiu mais de 150 conferências, esgotando todos os seus recursos materiais e ficando quase na indigência.
“Sir” Arthur Conan Doyle, seu grande amigo, saiu em seu auxílio e encabeçou uma coleta com o nome de “Caixa de Vale Owen”, que se encheu prontamente, porém o médium não fez dela qualquer uso.
Em 1931 foi acometido de grave enfermidade, porém, prosseguiu na tarefa de propaganda sem dar demonstrações das horríveis dores que o acometiam. No dia 9 de março desse mesmo ano veio a desencarnar.
Grandes Vultos do Espiritismo
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O reverendo G. Vale Owen era o tipo do sacerdote da Igreja da Inglaterra, dedicado à sua paróquia e de todo absorvido nos seus trabalhos. Nada estava mais longe do seu pensamento que a idéia de ser médium de comunicações espíritas.
A sua carreira fez-se sem acontecimentos de monta. Nascido em Birmingham, e educado no Instituto de Midland e no Colégio da Rainha, naquela cidade, foi ordenado pelo bispo de Liverpool, e nomeado para o curato de Seaforth, em 1893. Sucessivamente foi cura de Fairfield, em 1895, e de Matthews, Scotland Road, 1897, ambos em Liverpool. No ano de 1900 nomearam-no em comissão para Orford, Warrington. A Igreja de Orford foi edificada em 1908; criaram uma nova paróquia por essa ocasião, tornando-se ele, então, seu primeiro vigário.
Owen conta-nos como iniciou o seu intercâbio com a sua mãe desencarnada e com outros espíritos, recebendo destes preciosas lições sobre variados temas transcendentais: “Primeiramente foi minha mulher que desenvolveu o poder da escrita automática. Depois, por seu intermédio, recebi a comunicação de que devia sentar-me, calmamente, com o lápis na mão e receber todos os pensamentos que viessem ao meu espírito, projetados por uma personalidade externa, e
não originados do exercício de minha própria mentalidade. Relutei longo tempo, convencendo-me, por fim, de que amigos, que estavam próximos, desejavam ardentemente falar-me. Eles não forçaram a minha vontade, nem a compeliram por qualquer meio – o que teria resolvido imediatamente a questão, no que me tocava. Iam manifestando os seus desejos cada vez com mais clareza, até que me julguei no dever de atendê-los, certo como estava de que a
influência deles era boa. As quatro ou cinco mensagens primeiras flutuaram, indistintamente, de um assunto a outro.
Gradualmente porém, as sentenças foram tomando certo encadeamento, até que recebí algumas perfeitamente claras.
Por essa ocasião o desevolvimento e a prática seguiam passo a passo. Quando terminei toda a série de mensagens, calculei e verifiquei que tinha mantido uma velocidade de 24 palavras por minuto. Em duas ocasiões únicas tive a ligeira idéia do assunto a ser tratado, e isso quando a mensagem anterior ficou evidentemente incompleta. De outras vezes, esperava fosse abeirada uma questão; ao apanhar o lápis, porém, o curso do pensamento desviava-se em direção inteiramente oposta.”
Para a elaboração de sua obra Owen contou com a colaboração de sua mãe e de outros espíritos que muito trabalho tiveram para convencê-lo a participar das lições que mais tarde se fundiriam em um volume, levando esperanças e consolações a seus irmãos. Diz ele: “opina-se por aí, que os clérigos são indivíduos muito crédulos. O nosso mourejar, porém, no exercício das faculdades da crítica, colocam-nos entre os mais difíceis de convencer, quando alguma nova verdade está em foco. Fez-se mister um quarto de século para que eu me convencesse: – dez anos, de que a comunicação dos espíritos era um fato, e quinze de que esse fato era verdadeiramente bom.”
A obra de Owen intitulada “A Vida Além do Véu” foi elaborada como ele a descreve: “Tendo alcançado êxito as experiências, apresentou-se outro instrutor, de nome Astriel, de mais elevada hierarquia, espírito mais filosófico e de melhor dicção. As mensagens dadas por minha mãe e Astriel formam o primeiro livro dos escritos – “As Regiões Inferiores do Céu”. Vencida esta parte passei a Zabdiel, cujas mensagens são de mais alto nível que as simples narrativas de minha mãe. Elas formam “As Altas Regiões do Céu”. A nova fase foi “O Ministério do Céu”, transmitido por uma entidade que se dizia chamar Leader, e por seu grupo. Depois, ao que parece, assumiu ele é mais ou menos, a direção única das comunicações. Daí em diante dá -se o nome de Arnel. Sob esse nome apresenta uma narrativa que forma o quarto livro – “Os Batalhões do Céu”, e aí chegamos ao clímax. Estas mensagens são de natureza mais profunda do que qualquer das precedentes, evidentemente preparatórias”.
As comunicações recebidas por Owen são de suma importância, pois estabelece circunstanciada e completamente, as condições da outra vida, como ainda não haviam sido publicadas. O livro coloca-nos em face do universo espiritual, de inconcebível beleza e imensidade, adentrando-se em outras esferas pelos reinos de luz, os quais se desdobram pela amplidão do infinito. Fala de árvores, flores, pássaros e animais que são mais inteligentes e mais dóceis para com os espíritos. Descreve casas, jardins, cores, sonoridades musicais e a suave luz que envolve toda a atmosfera espiritual.
Cita o intercâmbio dos superiores com os mais inferiores, a jovialidade perene dos bons espíritos, as condições das regiões de luz e de trevas, o poder do pensamento e da vontade na ideoplastia… enaltece e confirma a perenidade da vida.
Owen jamais aceitou qualquer retribuição pela pubvlicação dos escritos. Reconhecia-se como simples instrumento na transmissão das mensagens, embora houvesse despendido grande esforço para escrevê-las e ordená-las. Homem amado em sua paróquia pelo bem que fazia, jamais mediu esforços para desempenhar sua missão terrena. Com suas mensagens do além os espiritas puderam obter maiores detalhes sobre a vida espiritual, o cotidiano, as artes, o pensamento, a luz eterna que brilha malgrado a indiferença de alguns homens. Não sendo espírita, os seus escritos trazem o cunho do observador fiél situado em campo neutro, pois que foi lúcido o bastante para evitar que o fanatismo lhe armasse com idéias pré-elaboradas contra aquela situação que para muitos era engendrada pelo demônio. A sua demora em convencer-se do fato só fortalece a legitimidade do mesmo, que disseminado libertou muitos espíritos para planos mais altos, pois altos são os anseios dos homens.